segunda-feira, 20 de abril de 2015

A HORA DO FADO

Alfredo Marceneiro


Aos noventa anos, era ainda uma figura conhecida da noite lisboeta. Raramente era visto durante o dia e tinha por hábito percorrer até altas horas da madrugada as típicas casas de fado. Foi um dos expoentes máximos da especialidade de todos os tempos, sem nunca se ter ausentado de Portugal com o objectivo de divulgar a sua música no estrangeiro, e escassas foram também as vezes que saíu de Lisboa.

Alfredo Rodrigues Duarte, nome verdadeiro de Alfredo Marceneiro, nasceu no dia 29 de Fevereiro de 1892, mas devido à invulgaridade da data, a mãe registou oficialmente a data do seu nascimento no dia 25 desse mês, a mesma do aniversário do seu pai.

Foi com a mãe que aprendeu a cantar quando era ainda muito novo e, com dezassete anos, foi visto pelo público pela primeira vez, quando participou, vestido de mulher, numa peça teatral inspirada no filme mudo "A Morte do Duque de Guise".
Vocacionado para a música, Marceneiro gostaria de ter estudado, mas a morte do pai em 1906, quando tinha catorze anos, obrigou-o a aprender um ofício. Antes de se tornar marceneiro, foi aprendiz de encadernador na oficina de Paulino Ferreira, actividade que desempenhou apenas para estar perto do fadista Júlio Janota, que ali trabalhava. Abandonou algum tempo depois o ofício, uma vez que pouco tempo lhe restava para o fado.
Tornou-se então marceneiro e o seu primeiro trabalho foi uma cruz de madeira, que colocou na sepultura do fadista Manuel Rego, o autor das suas duas primeiras letras. "Alfredo Lulu", como era também conhecido entre os colegas, pelo rigor com que cuidava da aparência, conciliava a actividade de marceneiro, que desenvolvia durante o dia, com as regulares actuações nocturnas.
Frequentava habitualmente o "Catorze do Rato", uma casa de jogo que acabou por ser transformada numa casa de fado, onde Marceneiro cantava acompanhado por piano, bandolim e guitarra, e onde conheceu o poeta Manuel Soares, que escreveu duas letras propositadamente para si. Foi também no "Catorze do Rato" que se tornou famoso por ser o primeiro fadista a cantar de pé, atitude que adoptou "para eles me verem bem", justificou.
Só nos anos 20 passou a ser conhecido por Alfredo "Marceneiro", quando assim foi apresentado no cartaz de um festival organizado por Manuel Soares, Alfredo Correeiro e José Bacalhau. O fadista foi, juntamente com Armandinho, um dos artistas fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, em 1927.
Dois anos depois, realizou a sua primeira experiência fonográfica, mas a experiência não o entusiasmou porque preferia o contacto com o público, próprio das actuações ao vivo.
Reponsável pelo lançamento de artistas como Hermínia Silva e Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro editou o seu primeiro disco apenas em 1961, que consistiu numa colectânea "com o melhor da canção nacional", intitulada "The Fabulous Marceneiro". Em 1980, subiu pela última vez ao palco no dia 24 de Junho, para receber a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa.
O artista faleceu de velhice dois anos depois, na manhã de 26 de Junho, aos 91 anos e, de acordo com uma frase célebre do fadista, o seu "maior desgosto foi o gramofone, que veio industrializar o fado".
Em 1989, a Valentim de Carvalho antecipou a comemoração do centenário do seu nascimento e editou o duplo álbum "O Melhor de Alfredo Marceneiro". Em 1995, Vítor Duarte, neto de Alfredo Marceneiro, lançou uma biografia do fadista acompanhada por uma compilação em CD. O livro conhece uma edição mais acessível, em formato de bolso, em Junho de 2001.

É tão bom ser pequenino

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