Apanhei o Paulo no Cais do
Sodré a sair de um bar de marinheiros. Ainda vinha a apertar as calças quando
entrou no táxi.
“Para São Bento”, avançou
secamente, assim que meteu a cabeça no interior da viatura. E lá fomos, em
silêncio, para S. Bento, enquanto o meu cliente limpava, com um lenço de seda
bordado, a nhanha que lhe escorria pela cara. Mandou-me contornar a Assembleia
e parar à frente do portão das traseiras.
Da escuridão, saiu um
indivíduo – daqueles que está todos os dias nos jornais – que parecia esperar,
ansiosamente, a nossa chegada.
“Entra, Pedro”, convidou o
Paulo cordialmente, já com a cara limpa, mas o cheiro continuava lá. Arranquei
e a conversa continuou.
“Então? Também fizeste uma
lista VIP?”, perguntou-lhe o Pedro. “Isto assim fica fora do controlo. Com a
minha e a tua já são seis ou sete listas: já lhes perdi a conta.” Franziu a
cara e perguntou: “Que cheiro é este? O que é que andaste a beber?”
“Não interessa”, atalhou,
“tenho que esconder o negócio dos submarinos. Todos os dias pesquisam os meus
dados e ainda descobrem qualquer coisa.”
“Já somos dois, ou melhor,
seis ou sete. Vou fazer uma lista única e tentar manter isto escondido de
olhares alheios.”
“Sr. taxista, deixe-me aí à
frente na paragem de metro.”
O Pedro saiu e fui deixar o
Paulo à porta do bar de marinheiros, onde foi recebido com beijos e apalpões.
Vou pedir transferência para o turno da manhã.
Do blogue "Chornal do Inacreditável"
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