Hermínia Silva
Com sete anos de idade, já cantava com regularidade para Alfredo Marceneiro e alguns amigos seus, entre os quais Armandinho, que muito a apreciavam. Mais tarde, inicia-se no teatro amador num clube dramático no Castelo.
Apadrinhada por Marceneiro, começa a ser reconhecida no meio do fado, sendo convidada por Armandinho para actuar no seu retiro fadista no Parque Mayer, na altura um local muito frequentado, nomeadamente por estrangeiros de visita a Lisboa. No entanto, a jovem Hermínia recusa a proposta por já antes ter sido convidada para actuar no Valente das Farturas, localizado numa esplanada no Parque Mayer, mesmo ao lado do Júlio das Farturas, onde cantava Alfredo Marceneiro.
Hermínia, com apenas 13 anos, conhece nesse período um enorme sucesso, de tal forma que era obrigada a fazer seis actuações diárias, com a Guarda Nacional Republicana a ter de ser chamada com frequência para impor o respeito às muitas pessoas que impacientemente aguardavam em fila a sua entrada no recinto. Em 1929, apresentou-se na Esplanada Egípcia, também no Parque Mayer, onde participou em revistas como "Ouro Sobre Azul", "De Trás da Orelha" ou "Off Side".
Reconhecida pela sua voz castiça, aceita, em 1932, um convite de Alberto Ghita para integrar o elenco da opereta "A Fonte Santa", no Teatro Maria Vitória. A partir daí, passa a ser disputada pelas várias companhias de teatro de revista, que lhe ofereciam contratos cada vez mais vantajosos. Acaba por entrar para o elenco do Teatro Variedades, onde era segunda figura de cartaz logo a seguir a Beatriz Costa na revista "O Feijão Frade", que esteve em cena oito meses.
Nos anos seguintes, participa sucessivamente em várias produções, como "A Festa Brava", "Zé dos Pacotes" ou "Estrelas de Portugal". Efectua ainda diversas digressões, nomeadamente ao Brasil e a Espanha. Chega mesmo a receber o Prémio Nacional de Teatro Ligeiro, pela sua interpretação na revista "Sempre Em Pé".
Depois do Parque Mayer, passa para outras salas lisboetas, como o Coliseu, o Apolo, o Monumental e o Teatro Avenida.
Foi, várias vezes, empresária de casas nocturnas, entre as quais o Solar da Hermínia, no Bairro Alto, e o restaurante típico Pôr do Sol, em Benavente. Participou também em vários filmes, sendo de destacar "A Aldeia da Roupa Branca" e "O Costa do Castelo".
Nos anos 60, faz algumas incursões na música pop, nomeadamente com José Cid e o Quarteto 1111, com uma versão de "Super Super", dos Archies, baptizado em português "Chunga Chunga", que se revelou um dos seus maiores sucessos.
O seu lado de comediante vinha habitualmente ao de cima nas actuações, onde ficaram célebres as suas frases castiças: "Anda Pacheco!" (palavra de ordem dada ao seu acompanhante guitarrista de muitos ano) ou "Isso bem picadinho que é para a voz sobressair!", que deixavam sempre a audiência a rir às gargalhadas.
Após 25 de anos de existência, fecha o Solar da Hermínia, em 1982. Por causa desta casa, já tinha praticamente abdicado do teatro de revista, ficando no entanto marcadas na memória colectiva, as suas interpretações de "A Casa Da Mariquinhas", "Velha Tendinha", "A Rosinha Dos Limões" ou "Rosa Enjeitada", que são hoje verdadeiros clássicos da canção nacional.
No final da sua carreira, contava com a participação em mais de 60 peças de teatro de revista, dez operetas, cinco filmes, uma peça declamada e uma lista extensa de fados e canções. Recebeu ainda as mais diversas condecorações, nomeadamente a Ordem do Infante D. Henrique, a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e a Comenda de Mérito da Cruz Vermelha Portuguesa.
Fado da Sina
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